terça-feira, 5 de outubro de 2010

Contando Sonhos


Vamos  continuar falando de jovens, energia e sonhos.    Dessa vez  partindo do gênero textual "conto" . Após a leitura do conto Retratos do Futuro, do  escritor Marcelo Spalding, comente sobre os personagens, qual te chamou mais atenção,  o que eles tinham em comum,  que mensagem está nas entrelinhas, enfim, a palavra é sua!                                            

RETRATOS DO FUTURO
         Marcelo Spalding

Primeiro chegaram os gritos, altos e alegres, logo depois as crianças, correndo. LP foi quem bateu na porta primeiro, com a ponta dos dedos, e começou a saltar e gritar ganhei!, eu ganhei!, sou o mais rápido do mundo! Esperaram o Max chegar esbaforido e riram muito do amigo. Ficaram os quatro em volta dele gritando saco de batata!, saco de batata!, mas o menino ergueu a cabeça e disse, confiante:
– Aposto que sei tirar fotos muito melhor do que vocês.
Os outros continuaram rindo mas os pulos foram perdendo a graça, Max tinha tocado no ponto certo, estavam todos ansiosos para ver aquelas fotografias.
Pararam de pular em volta do Max, o ganhador da corrida não comemorava mais. Sentaram em frente à porta. Um deles perguntou as horas, outro respondeu que faltavam dez minutos, mas um terceiro retrucou o amigo, faltavam quarenta. Discutiram por um bom tempo, até que chegou o Alex, boné vermelho sempre virado para trás. Cumprimentou a turma e perguntou se faltava muito. Cinco minutos, disse um deles. Trinta, retrucou outro.
Uns roíam unha, outros atiravam pedrinha, Max contava para o Ed das posições em que ficava para tirar as fotos. LP, num canto, permanecia sério, de pé, observando como se fosse o tio das máquinas. De certo lembrava do primeiro dia, das conversas desconfiadas, da proposta de tirar fotos, dos treinos com as duas mãos em posição de câmera.
– Tô com medo que as minhas queimem. – disse Alex se aproximando de LP.
– Que nada, meu, eu tava contigo e tu fez tudo certo. Sabe, tô lembrando do primeiro dia que a gente veio aqui.
Era uma tarde quente de maio, os meninos chegaram suados, alguns com uma calota de carro na mão, outros com sacos de bergamota. Poucos sorriam, nenhum falava. Só sabiam que alguém da universidade queria conhecer os sonhos deles, e como tinham muitos, acharam bom compartilhar alguns. Conversaram com o rapaz e logo o batizaram de tio das máquinas. Adoraram a idéia de tirar fotografias, nunca tinham mexido numa máquina de verdade, com filme dentro e tudo. Ficaram um pouco chateados de não sair naquele dia com o equipamento, mas André, o tio das máquinas, explicou que ele precisava contar quantos eram e conversar com eles antes.
O rapaz não se surpreendeu quando chegou no local combinado, no dia seguinte, e viu todos os meninos o esperando. Pediu ajuda para carregar a sacola e entraram. Apesar de os meninos estarem ansiosos por tocar nas máquinas, seguiu o combinado e deu algumas instruções: olhem neste buraquinho aqui, não coloquem o dedo na frente da lente, não batam fotos em lugares escuros e nunca, nunca abram esta portinha porque estraga todo filme. Foi distribuindo as máquinas, uma a uma. Eram câmeras mecânicas compactas, modelo 35 mm, com abertura, velocidade e foco fixos, sem dispositivo de flash e com um filme de 12 poses ISO 400 dentro. Ao entregá-las, dizia solenemente para cada menino:
– Lembre-se, nós gostaríamos que você pensasse no seu futuro e a forma como você gostaria que a vida fosse nesta época. Nós estamos te entregando esta câmara fotográfica e gostaríamos que você tirasse doze fotos que representassem tudo do jeito que você gostaria que acontecesse na sua vida no futuro. Essas fotos podem ser de qualquer coisa que você quiser, desde que ligado a este tema. Ao final, nós vamos juntar todas as fotos e montar um livro. Depois de pronto nós vamos conversar e este livro será seu.
Continua... no livro Crianças do Asfalto - Editora da UFRGS

Leia o outro conto que complementa o primeiro " As imagens de um menino"  no link  ao lado e responda as  questões solicitadas.